segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Bate papo gostoso com a UDR


ZR - A proposta da banda é muito irreverente, como tudo começou?

UDR - Tudo meio que sem querer. Tínhamos acabado de descobrir os softwares de sequenciamento de bateria e sintetizadores, justo quando ficamos de saco cheio de termos bandas propriamente ditas. Aí um dia pintou Chatuba de Mesquita no Napster e achamos que seria engraçado fazer uns beats de funk com letras de death e black metal, porque é o que curtimos. A aceitação e demanda foi muito maior do que aquela que tínhamos com nossas respectivas bandas, aí a gente passou a fingir que éramos uma banda e começamos a tocar por aí.

ZR - Em geral o que a banda busca expressar com suas letras que veneram a escatologia? Seria uma forma de catarse anticosmica pra algum tipo de bizarrice social?

UDR - Não tem muito o que expressar, na real. Normalmente quando respondemos algo dessa natureza, inventamos alguma diatribe na hora, mas a real é que nossas cabeças  são poços sem fundo de referências obscuras, imbecis e desnecessárias; e achamos engraçado rimar umas com as outras. Ao longo do tempo a gente foi sacando que tinha um certo efeito catártico, mas não era necessariamente proposital. Foi mais coisa de sacar que ao longo dos anos as letras foram ficando menos literais e esculachadas, e os beats mais trabalhados e bem compostos.

ZR - Como andam os shows? Há pouco tempo vocês fizeram um show em SP comemorando os 10 anos da banda, como foi a recepção do público?

UDR - A gente passou 10 anos tocando a troco de passagem e colchão simplesmente porque era algo que nunca conseguimos quando tínhamos bandas mesmo. Agora que a gente pode cobrar um trocado de cachê também, tocamos quando se dispõem a atender isso. O show de comemoração foi espetacular, ficamos satisfeitíssimos!




ZR - Geralmente as letras são escritas por toda a banda? São psicografadas? As ideias surgem geralmente durante qual tipo de situação?

UDR - Sim, em geral todos escrevem. Às vezes quando um apresenta uma letra completa,    normalmente outro pensa em refrão e outro traduz em beat para o programinha lá de sequenciar. Não tem situação muito específica pra acontecer. Muita coisa ali foi escrita no esquema de um ligar para o outro "escuta só essa" e mandar uma ou duas rimas muito engraçadas; e a partir daí desenvolver o resto.

ZR - Com relação às gravações, elas são feitas em casa? Os samplers e mixagens, são vocês mesmos que fazem? E as artes? A capa de Bolinando Straños é muito bonita, quem fez?

UDR - Tudo em casa, tudo nós mesmos. Exceto Dança do Bukkake, que a gente não tinha a manha de fazer warp na velocidade da cornetinha pra encaixar no beat e um amigo nosso, o DJ Golgo13, quebrou o galho. A arte do Bolinando Straños também é exceção; foi feita pelo nosso amigo Juliano Enrico, da Revista/TV Quase.

ZR - Nas letras sempre são citados temas muito interessantes e aparentemente complexos para a maioria das pessoas, todos de uma forma muito inteligente e engraçada, como vocês lidam com esses temas. (por exemplo no caso da morte de fetos, uso abusivo de substâncias, sexo com mendigos e afins). Qual a relação de cada integrante com os temas celebrados pela banda?

UDR - É bem aquilo dito antes; gostamos de rimar referências obscuras com referências        óbvias, eruditismo com parafilia, situações absurdas com narrativa casual; e por aí vai. Cada um de nós acha um tipo de combinação mais engraçada, e sempre buscamos  imaginar do que o outro riria.

ZR - Vocês já tiveram algum tipo de problema ("recalqdazinimiga") por causa da temática da banda?

UDR - Acho que não da forma como foi imaginado na pergunta. Houve um show pequeno em 2004 que um sujeito não curtiu e ficou cuspindo na gente até perceber que só tinham amigos e fãs no lugar, e ir embora pra não piorar o clima. E quando abrimos o show do Massacration em 2005, pra um publico maior, a maioria das pessoas lá era fã apenas  do Massacration e não recebeu bem nenhuma das 3 bandas de abertura.  De resto, sempre foi no esquema de gente muito diferente entre si curtindo uma mesma    coisa, então o resultado sempre foi suave e divertido.

ZR - Outro dia ouvindo a “Dança do pentagrama invertido” notei a voz do grande SatyrzinhoSatanboy, foi ele mesmo que veio direto da densa tundra para a gravação da faixa?

UDR - Certamente que sim. Ali o conhecemos, e ali formou-se uma gélida e necrosada amizade.Vamos juntos ao parque. Ele adora brincar na gangorra.

ZR - Quais bandas costumam ouvir/influenciam o som de vocês?

UDR - Atualmente, todos os três são realmente apreciadores de black metal. O Barney tem                 uma formação mais sólida no estilo, ouve desde moleque e tem uma pilha monstruosa de discos. Aquaplay conheceu na adolescência também, mas nunca abriu mão de escutar coisas tipo Korn, R.E.M. e Placebo. Carvão demorou a querer conhecer, mas hoje em dia curte bastante black metal também.
Os três também tem em comum uma predileção por rap e hip-hop. A diferença está nos subgêneros. Barney prefere uma pegada mais oldschool, anos 80, Carvão uma levada mais experimental, atemporal, e Aquaplay prefere o ápice da Def Jam, ali entre 2004 e 2009. De resto, é suruba. Tentar listar seria perda de tempo. De peculiaridades, Barney ama New Order, Aquaplay ama Prince e Carvão ama Jorge Ben.

ZR - Jesus curte UDR?

UDR - Obviamente que sim. Mais do que o Rei dos Reis, ele é o Brother dos Brothers.

ZR - Vocês tem alguma página oficial da UDR onde dê pra adquirir produtos do mercado negro e outros produtos relacionados à banda?

UDR - Não.

ZR - Qual a mensagem que vocês gostariam de deixar para a posteridade/fãs da UDR/inimigas/leitores do Zine Ratolândia?

UDR - Posteridade, você é coisa do passado. Fãs da UDR, obrigado pelo amor. Leitores do Zine Ratolândia, leiam o Zine Ratolândia.